capa - como se define um cânone

Você já se perguntou alguma vez quem decide o que é música boa e música ruim? Já tentou entender como esse processo funciona e por que alguns artistas são mais conhecidos do que outro no repertório musical? Este assunto é muito interessante discutir com você. Me acompanha?

Um bom ponto de partida é entender o que é cânone (Meu Deus! Que raios é isso?!). Só esta palavra sozinha já é um termo complicado de definir.

Se você procurar no dicionário, “cânone” possui um sentido geral de “regra”, “preceito” ou “norma”. Isso significa que ele representa um conceito de valor, de exemplificação, um modelo a ser seguido.

Vamos a um exemplo! Um cânone na literatura brasileira seria Machado de Assis. Ele é uma figura tão importante que estabelece um senso de autoridade.

Você pode perceber isso na fala de escritores que dizem que este autor é uma inspiração para o desenvolvimento da escrita, por exemplo.

Além disso, outro ponto que determina um cânone é o senso de continuidade temporal, que também pode ser visto neste mesmo autor: todo mundo, em qualquer época, tem que ler Machado em algum momento.

E isso não é diferente na música.

Na música clássica, existem vários compositores que todo mundo (todos mesmo) algum dia terá que praticar se for aprender música. Por exemplo, Mozart, Wagner, Beethoven, Villa-Lobos. São nomes que até mesmo quem não estuda música conhece. Por causa disso são chamados de compositores canônicos.

gif - cânone

Quem decide o que é cânone?

Para você conseguir entender melhor essas questões, é bom entender como funciona o processo de construção desse cânone. Os pilares que definem um cânone são praticamente esses três:

1. A Performance: quantas pessoas tocam esses compositores
2. A Gravação: quantas vezes foram gravados
3. A Atividade Acadêmica: quantos estudos já foram feitos

Além disso, é impossível discutir cânone sem cair na discussão sobre valor (no sentido de importância). Existe um valor nessas obras que um dia foi determinado em certas condições por um conjunto de pessoas, instituições, acadêmicos, mídias, entre outros. Por isso, elas foram e são passadas de geração em geração.

Dessa maneira, a obra pode ser valorosa para um grupo de pessoas, por ter um status social ou porque foi escrita para algum evento importante. Por esses motivos, ela não morreu no tempo. Isso acontece em qualquer tipo de arte.

 

O dinheiro conta?

Sim, esse é um aspecto que deve ser levado em consideração.

Pensa comigo: para uma obra ou um compositor ser ouvido é necessário muito investimento, econômico e social. É preciso que os músicos estudem a peça e é preciso que eles sejam pagos por este tempo de estudo e de performance!

Por consequência, existem instituições voltadas para este tipo de trabalho. Elas se dedicam exclusivamente à propagação da obra de um determinado(a) autor(a).

Pensa em um compositor clássico brasileiro.

Aposto que pensou em Villa-Lobos. Por quê? Porque o nome dele está em shoppings, teatros, hospitais, parques etc. Talvez você nunca tenha ouvido uma música dele, mas já viu esse nome em algum lugar.

Mas lembre-se! Não estou dizendo que Villa-Lobos não merece todo esse crédito! Ele foi um compositor muito (muito mesmo) importante para o Brasil e merece todo respeito que lhe damos. Aproveite e ouça algumas de suas músicas, tenho certeza que vai gostar.

 

Algumas questões sobre cânone para refletir

 

Então, eu só toco os conhecidos ou só conheço os que toco?

O que você acha? Você só conhece Mozart porque as orquestras só tocam Mozart? Ou só tocam Mozart porque não querem arriscar um repertório que ninguém conhece? A discussão aqui fica ampla e diverge opiniões.

E se você não gosta desse compositor?

Um(a) compositor(a) é menos importante por que você não gosta dele? Acredito que não deveria ser. Porém, ainda tem muito acadêmico que pensa assim. Isso acaba por privar alguns alunos de conhecer um repertório mais amplo.

Qual o papel do professor na construção do cânone?

Além disso, tem também o papel do professor que fornece ao aluno as músicas e compositores que este deveria estudar. Sendo assim, o professor também tem uma grande influência na continuação e determinação do cânone.

Porém, já se perguntou: será que se seu professor não te pedisse para estudar algo, você estudaria? Digo, se ele não te mostrasse peças além do cânone, será que você teria contato com elas? Ou ao contrário: se seu professor só te mostrasse o cânone, será que você conseguiria ter acesso a outras obras?

Dito isso, muitas obras acabam caindo no limbo da falta de oportunidade pelos fatores acima: não arriscar repertório conhecido, professores só repassarem os mesmos repertórios de sempre ou não receber investimento em pesquisas que tratem sobre novas músicas ou compositores.

O que você acha? Tem como definir o que é bom? E o que deve durar para sempre?
Deixe nos comentários sua opinião!

Referências

BEARD, David; GLOAG, Kenneth. Musicology: the key concepts. Londres e Nova York: Routledge Taylor & Francis Group, 2005.

EVERIST, Mark. Reception Theories, Canonic Discourses, and Musical Value. In: COOK, Nicholas; EVERIST, Mark. Rethinking Music. Oxford: Oxford University Press, 2001, p. 403-423.

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