capa - como surgiu o violão

O violão é um instrumento bastante versátil, transitando entre o mundo popular e erudito. Mas você sabe como surgiu o violão? Quais foram os instrumentos que o antecederam?

Neste artigo, vamos explicar as transformações que os instrumentos de cordas dedilhadas sofreram até chegar ao instrumento que conhecemos hoje com 6 cordas simples.

Sendo assim, vamos falar desde a vihuela, instrumento do séc. XV, passando pelas diversas guitarras nos séculos posteriores. Vale mencionar que o termo “violão” é utilizado no Brasil. Porém, em outros países é utilizado o termo “guitarra”.

 

Os instrumentos de cordas dedilhadas

Para falar sobre como surgiu o violão, precisamos entender os instrumentos de cordas dedilhadas. Esses instrumentos musicais são todos aqueles que possuem cordas e que são tocados através do dedilhado, como o violão, a guitarra e a viola caipira. Assim, são diferentemente dos instrumentos de cordas friccionadas, como o violino e violoncelo, e os de cordas percutidas, como o piano e o berimbau.

Entre os instrumentos modernos de corda dedilhadas, além dos já mencionados, temos o bandolim, cavaquinho, contrabaixo elétrico e a harpa, por exemplo. Já os instrumentos de origem mais antiga, temos o alaúde, a vihuela, a guitarra barroca e a teorba por exemplo.

Assim, no âmbito do violão, os instrumentos que são seus antepassados seriam a vihuela e as guitarras de várias ordens. Isso porque a vihuela e as guitarras possuem o corpo no formato de 8, igual ao violão, diferentemente do alaúde que tem o formato de pera, com a mão dobrada para trás e de origem moura.

O que são as ordens?

Esses instrumentos antigos possuíam cordas duplas. Assim, as “ordens” dos instrumentos de cordas dedilhadas são os pares de corda do instrumento. Por exemplo, o alaúde pode ter 6 ordens. Assim, ele terá 11 cordas, sendo 10 em 5 pares e 1 simples.

A Afinação

Outro elemento diferente dos instrumentos modernos é que a afinação não era padronizada, como hoje em dia nas orquestras.
Sendo assim, era comum que esses instrumentos antigos de cordas dedilhadas tivessem diferentes afinações. Além disso, seus trastes eram móveis, feitos com corda de tripa, diferente dos trastes fixos de metal que temos no braço do violão.

A técnica

Outra grande diferença entre esses instrumentos antigos de cordas dedilhadas é a técnica usada para tocá-los.

Era comum que esses instrumentos fossem tocados com os dedos fortes (polegar, médio e indicador) alternados e o dedo mínimo ficava apoiado no tampo. Isso era chamado de figueta.

Hoje em dia, tocamos o violão com os dedos indicador, médio e anular, deixando o polegar apenas para os baixos.

A notação musical

Para esses instrumentos, era comum que fossem anotadas as peças em tablatura, italiana (números) ou francesa (letras) e não em partituras como temos hoje com o violão clássico.

 

tablatura italiana: instrumentos de cordas dedilhadas
Tablatura Italiana
tablatura francesa: instrumentos de cordas dedilhadas
Tablatura Francesa

A vihuela

A vihuela surge na Espanha, entre 1480 e 1500. Trata-se de um instrumento de 6 ordens com pares de cordas (exceto a primeira, que provavelmente era simples). Vale falar que nesta época, as cordas eram feitas de tripa, este, então, é o caso da vihuela.

Portanto, a vihuela possuía 12 cravelhas, como era chamada as tarraxas antigamente, tendo um mecanismo um pouco diferente das atuais.

Cordas dedilhadas: vihuela

Nessa período, existiam 3 tipos de vihuela sendo que a de mano era a dedilhada. (DUDEQUE, 1994, pág. 9). Outro instrumento, a vihuela de 5 ordens, tinha uma tessitura mais baixa que a vihuela de mano. Além disso, as cordas duplas de mesma ordem podiam estar em uníssono ou oitavadas.

Entre os compositores mais famosos de vihuela estão Luis de Milán, Luis de Narváez, Alonso Mudarra e Enriquez de Valderrábano.

Clique aqui para ouvir este instrumento.

 

A guitarra de 4 ordens

A guitarra de 4 ordens já se diferenciava da vihuela pelo seu tamanho mais curto e pelo intervalo de 3M – terça maior – entre a segunda e terceira ordem.

As primeiras publicações para a guitarra de quatro ordens surgiram por volta de 1547 nas obras de Alonso Mudarra (c.1510-1580).

Na França, este instrumento foi muito mais difundido cerca de 1550 e era conhecido como guiterre, entre outros nomes. Já na Itália, era chamada de chitarrina alla napolettana.

cordas dedilhadas: guitarra de 4 ordens

É aqui que surge o sistema de alfabeto (1580) em Nápoles. Este sistema relaciona uma letra do alfabeto com um acorde na guitarra e, como muitos acordes tinham a mesma digitação, colocava-se números ao lado das letras para indicar a posição em que deveriam ser tocados.

Clique aqui para ouvir este instrumento.

 

A guitarra de 5 ordens

A guitarra de 5 ordens possuía vários tipos de afinação, reentrantes ou não, uso ou não de bordões na quarta e quinta ordens . A afinação reentrante é aquela que usa a ordem inversa das cordas, ou seja as mais agudas se encontram entre as mais graves, por exemplo.

cordas dedilhadas: guitarra de 5 ordens

Santiago de Murcia (1673-1739) foi um dos grandes guitarristas e teóricos de sua época, influenciando seus contemporâneos. Após sua morte essa guitarra se tornou um instrumento de acompanhamento.

“Durante toda a metade do séc. XVIII, essa guitarra se relegou ao acompanhamento (…). O acréscimo da 6ª ordem e o fim das cordas duplas possibilitaram a [Fernando] Sor que buscasse colocar a guitarra novamente no mesmo nível em que se encontrava no séc. XVII, adaptando-a a uma nova realidade imposta pelas diferentes condições físicas do instrumento e, de outro, pelas características do estilo emergente do séc. XIX” (CAMARGO, 2005: 12).

 

A guitarra de 6 cordas simples

A partir de 1750, as cordas começaram a deixar de ser duplas e foi adicionada uma 6ª corda. Assim, surgiram novos tratados ensinando a tocar esses instrumentos: Metodo per la chitarra a sei corde (Federico Moretti de 1792) e Arte de tocar la guitarra espagñola por musica (Fernando Frandière de 1799).

Por volta do séc. XIX, essa guitarra de 6 cordas simples começou a se tornar muito popular. Os principais compositores ligados à elevação do status da nova guitarra foram Fernando Sor e Mauro Giuliani.

Para isso, desenvolveram uma escrita idiomática dentro dos moldes estilísticos do séc. XIX e incluíram elementos do estilo clássico no repertório guitarrístico, tal como, a escrita de sonatas, rondós, minuetos e tema e variações, principais composições da época.

cordas dedilhadas: guitarra romantica

É aqui que se começa a escrever as peças para este instrumento em partitura, abandonado a tablatura de até então. Isso deu à guitarra um reconhecimento maior, permitindo que fizesse parte da orquestra como instrumento solista e de conjuntos de câmara com mais facilidade.

Por fim, a guitarra se torna popular em todas as classes sociais, já que também era um instrumento leve, fácil de ser transportado, rápido de se aprender alguns acordes e podia substituir o piano em casa.

Sendo assim, outros métodos que vão surgindo ao longo do séc. XIX, entre eles, o de
Fernando Sor, Dionísio Aguado (1784-1849) e Ferdinando Carulli (1770-1841).

Visto isso, Fernando Sor e Mauro Giuliani são os grandes responsáveis por estabelecer importância, trazendo-a novamente como um instrumento de música de salão.

Vale falar que a essa guitarra de 6 cordas simples do séc. XIX, deu-se o nome de guitarra romântica. Além disso, é um instrumento de corpo menor que o violão moderno e os trastes já eram fixos.

Clique aqui para ouvir este instrumento.

Outros nomes da guitarra do séc. XIX

Existem outros guitarristas importantes na história do violão durante o séc. XIX. Vale mencionar alguns:

– Matteo Carcassi (1792 – 1853)

– Napoleon Coste (1805 – 1883)

– Giulio Regondi (1822-1872)

– Francisco Tárrega (1852-1909)

 

O violão moderno

O modelo do violão como conhecemos hoje, também chamado de guitarra clássica, é atribuído ao espanhol Antonio de Torres (1871-1892). Torres aumentou o corpo do violão, ou seja a caixa acústica e usou as 6 cordas simples.

Atualmente, as cordas são feitas de nylon, sendo que as graves (ou bordões) são revestidas de cobres. Além disso, os trastes são fixos e se usa tarraxas e não cravelhas.

 

violão modelo torres
Violão Modelo Torres

Nos modelos atuais, podemos encontrar tampo de pinho ou cedro, o que muda o timbre do instrumento. Além disso, o tampo pode ser feito apenas de uma dessas madeiras ou com uma combinação das duas, técnica chamada Double Top.

Alguns nomes do violão clássico moderno:

– Agustín Barrios Mangoré (1885 – 1944)

– Andrés Segovia (1893-1987)

– Abel Carlevaro (1916-2001)

– Ida Presti (1924-1967)

– Juliam Bream (1933)

– Leo Brouwer (1939)

– John Williams (1941)

– Manuel Barrueco (1952)

– David Russel (1953)

– Angela Muner (?)

– Ana Vidovic (1980)

 

Os estilos do violão

Como dissemos, o violão é um instrumento bastante versátil. No mundo popular, o violão pode ter amplificação ou não e ter cordas de aço. Pode também fazer acompanhamento ou solar. Entre os estilos mais comuns, temos o choro, samba, rock, folk, entre outros.

 

Para terminar…

Essa foi nossa breve história de como surgiu o violão. Cada um desses instrumentos de cordas dedilhadas tem uma quantidade diversas de músicas que valem muito a pena ser escutadas!

Caso queira saber mais sobre o violão, deixo aqui a indicação do canal conversa de violonista do Luciano Morais e o Guitarcoop. Também vale a leitura do livro História do Violão de Norton Dudeque.

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