Carmen: ópera fascinante

Carmen, uma das óperas mais populares e fascinantes de todos os tempos! Sim, você muito provavelmente já ouviu vários trechos dessa ópera e talvez até conheça uma pouco da história da nossa personagem principal. Mas, do que realmente essa ópera trata? Amor? Intriga? Liberdade?

Leia este post até o final para entender toda a concepção dessa obra, sua história, seu roteiro, artistas e (é claro!) música!

Resumo da ópera

Em Sevilla, na Espanha (séc. XIX), Carmen, uma cigana linda e fascinante, causa um alvoroço na fábrica de cigarros onde trabalhava e acaba sendo presa por Don José. Carmen, portanto, seduz o militar, prometendo amar Don José em troca de sua liberdade. O militar libera Carmen e acaba sendo preso por causa disso.

Após dois meses, ele encontra novamente Carmen no meio de contrabandistas. Don José, então, deserta o exército para ganhar o amor de Carmen. Porém, acaba ficando obcecado por ela e começa a segui-la cheio de ciúmes.

Carmen e Don José vivem um lindo amor, mas com o crescer do ciúmes do seu parceiro, Carmen o rejeita. Micaela, que já era noiva de Don José desde o começo da ópera, tenta retomar o juízo de seu noivo e o convence a retornar para casa, já que a mãe dele estava morrendo.

Contudo, Don José encontra Carmen pela última vez na arena de Sevilha. Enquanto Carmen está esperando seu novo amor, o toureador Escamillo, Don José tenta convencê-la a ir embora com ele. Desesperado, Don José implora para Carmen e a ameaça, mesmo assim ela o recusa, clamando que ou ele a mata ou a deixa seguir livre. Ele, então, a esfaqueia, confessando seus crimes diante da multidão.

Final da ópera Carmen
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Florida_Grand_Opera_-_Flickr_-_Knight_Foundation_(47).jpg

George Bizet e a estreia da ópera Carmen

Carmen é uma ópera francesa em 4 atos escrita por George Bizet (músico e compositor francês), tendo como libretistas: Henri Meilhac e Ludovic Halévy. Essa ópera foi estreada em 1875, na Opéra-Comique em Paris.

Bizet escreve Carmen baseada em uma novela homônima da época de Prosper Mériméed. Porém, os libretistas deram uma modificada nas personagens, mantendo Carmen como uma mulher livre e sedutora.

A história da ópera se passa na Espanha e gira em torno de 4 personagens principais:
• Carmen: cigana sedutora que trabalha em uma fábrica de cigarros e tem a liberdade como seu símbolo;
• Don José: um soldado, obcecado por Carmen e noivo de Micaela;
• Micaela: noiva de Don José que busca durante toda a ópera restaurar o juízo de seu noivo;
• Escamillo: o toureador e novo amor de Carmen.
Por mais conhecida que a ópera seja hoje em dia, sua estreia não foi um grande sucesso. A ópera foi considerada escandalosa, vulgar, imoral e inadequada para a sociedade da época.

Vamos, então, às polêmicas dessa ópera!

 

Polêmicas e repercussão da ópera

Dentre os principais assuntos polêmicos desta ópera, estão o fato de Carmen ser uma mulher de personalidade forte, libertária, livre sexualmente e que não fazia jus ao papel de mulher daquele período. Além disso, ela também era uma cigana.

E não para por aí! As outras mulheres que trabalham na fábrica com Carmen, e fazem o coro da ópera, também lutam e fumam no palco, o que seria indecoroso para damas do período.

Outra cena que foi considerada muito chocante pelos críticos foi a morte da própria Carmen no final da ópera. Claro que era comum ter mortes em óperas, inclusive de personagens femininas. Contudo, Carmen não morre como mártir (o que era comum nas óperas), mas sim assassinada por não poder ser quem ela é.

Vale notar que, até então, as óperas costumavam retratar as personagens femininas em função das masculinas. As mulheres comumentemente tinham papeis mais submissos, sendo aquelas donzelas indefesas que morriam por amor.

Assim, Carmen quebra este paradigma sendo a protagonista da ópera e dona de seu próprio destino, capaz de fazer suas próprias escolhas. Aliás, essa é uma marca forte da personagem, pois é exatamente isso que ela prega para as outras pessoas na ópera: seja livre, tome suas próprias decisões.

“Eu não vou medir as palavras. Sua Carmen é um fracasso, um desastre! Nunca será tocada mais do que 20 vezes. A música é incessante. Nunca para. Não tem nem tempo para aplaudir. Isso não é música! E sua peça – não é uma peça! Um homem conhece uma mulher. Ele a acha bonita. Esse é o primeiro ato. Ele a ama, ela o ama. Esse é o segundo ato. Ela não o ama mais. Esse é o terceiro ato. Ele a mata. Esse é o quarto ato! E você chama isso de peça? Isso é um crime, você está me ouvindo? Um crime!”
– Jean Henri Dupin para Ludovic Halévy (fonte: Carmen, a Gypsy Geography)

O resultado final desta ópera foi o grande sucesso: após ser estreada em Viena (também em 1875), a ópera começou a ser muito elogiada! Porém, em Paris, a ópera só será um sucesso em 1883.

O sucesso dessa ópera foi tão grande que grandes nomes da época, como Brahms, Wagner e Nietzsche elogiaram Carmen. Brahms, por exemplo, considerou a ópera “a melhor ópera produzida na Europa desde a guerra Franco-Prussiana”. Contudo, Bizet não viveu para ver o sucesso de sua ópera, falecendo 3 meses após a primeira estreia em Paris.

“Sua música parece perfeita para mim. Ela se apresenta com leveza e elasticidade (…) ela é cruel, requintada, cheia de fatalismo e ainda popular (…) é rica e precisa (…). Eu repito, essa música me fez um homem melhor”.
– Friedrich Nietzsche (fonte: Carmen, a Gypsy Geography)

“Toda vez que eu escuto Carmen eu me sinto mais filósofo, um filósofo melhor, do que eu geralmente me considero (…) também um melhor músico, um melhor ouvinte. (…) Finalmente, o amor, amor traduzido novamente em natureza. Não o amor de uma “virgem suprema”! Sem o sentimentalismo de Senta [personagem da ópera O Navio Fantasma de Wagner]! Mas amor como uma fatalidade, cinismo, inocência, crueldade e precisamente como uma peça da natureza! Aquele amor que é guerra em seu significado e em sua profundidade o ódio mortal entre os sexos! Eu não conheço nenhum caso onde a piada trágica que constitui a essência do amor é expressa tão estritamente, transformada em uma terrível fórmula, como no último choro de Don José”.
-Friedrich Nietzsche (fonte: Carmen, a Gypsy Geography)

Para Hugh Macdonald, o sucesso dessa ópera se deve a “inclusão da comédia convencional e de cenas sentimentais juntamente com um forte realismo com um toque de fábula moral”.

Assim, Carmen se tornou a ópera mais conhecida, um símbolo da liberdade e da paixão, executada em muitas partes do mundo, e virou a cara da ópera francesa.

 

A música da ópera Carmen

Essa ópera foi feita inicialmente para ser uma ópera cômica. Isso quer dizer que a ópera tinha muitos diálogos falados. Porém, Bizet modificou esses diálogos e os transformou em recitativos para a estreia em Viena.

Segundo Susan McClary, a música desta ópera reforça seu aspecto sensual e exótico. O compositor colocou referências da música cigana e canções folclóricas, que parece na Habanera, por exemplo.

Além disso, Carmen está recheada de danças espanholas, como o fandango, flamenco e as seguidilhas. Porém, não devemos esquecer que esta é uma ópera francesa. Assim, há uma mistura do estilo musical francês com elementos espanhóis, além de ter todo o texto em francês, mesmo se passando na Espanha.

Sendo assim, vale a pena falar de duas das árias mais conhecidas desta ópera, então vamos a elas (análise de Susan McClary)!

– Habanera:

• É uma das músicas mais tocadas de todos os tempos!
• Aqui, é onde ocorre a apresentação da personagem Carmen e a sedução de Don José;
• É uma ária que celebra o amor e traz um aviso sobre quem é Carmen, especialmente quando ela canta: “Se eu te amo, tome cuidado!”;
• O ritmo da habanera, uma dança cubana de ritmo pontuado, já induz a movimentação do corpo de Carmen, reforçando a imagem sensual da personagem;
• A melodia é descendente, cromática, instável tonalmente. Isso dá um caráter de algo evasivo, provocativo.

– Canção do Toureador:

• Também uma das árias mais populares!
• É enérgica, alegre, heroica com características espanholas. Representa o caráter confiante de Escamillo;
• Assim como a ária de Carmen, esta começa em modo menor e modula para maior;
• O ritmo representa gestos da tourada;
• Há uma marcha que celebra a vitória do toureador;

O Final da ópera Carmen

O final é marcado por um grande contraste de terror e alegria. Como dissemos, Carmen estava esperando o toureador voltar quando Don José a confronta.

No momento em que ela é esfaqueada, a marcha da vitória do toureador começa a tocar, pois ele estava indo de encontro a Carmen. Assim, temos uma cena composta pela tragédia de Carmen assassinada no chão com a música alegre e festiva do toureador.

Em resumo, Carmen é uma ópera ao mesmo tempo alegre, festiva, viva, mas cheias de cenas dramáticas e muito sentimentais. Essa ópera está recheada de árias uma mais linda que a outra e quadros de danças espanholas enérgicas. Definitivamente, é um espetáculo que vale MUITO A PENA ser assistido ao vivo!

Para mais informações sobre o mundo da música e para entender o que é ópera acesse nosso canal do youtube: www.youtube.com/musicalidades

Ficha de personagens (fonte Wikipedia):

Carmen: mezzo-soprano

Don José: tenor-lírico

Micaela: soprano coloratura

Escamillo: baixo-barítono

Frasquita (Amiga de Carmen): soprano

Mercédès (também é amiga de Carmen): mezzo-soprano

Remendado (um dos contrabandista): tenor

Dancaïre (também contrabandista): barítono

Moralès (Sargento): barítono

Zúñiga (Oficial comandante de Don José): baixo

Lillas Pastia (Dono de taberna): não canta

O Guia (Acompanhou Micaëla até onde estava Don José): não canta

 

Glossário

Ária: uma canção escrita para solista em uma ópera. As árias costumam ter bastante melisma e pouco texto. Em geral, são mais emotivas e demonstram toda a sentimentalidade da personagem.

Recitativo: nada mais é do que uma fala cantada. A harmonia do recitativo costuma modular bastante e a música se move de acordo com a intensidade do texto. Os recitativos são usados, normalmente, em um contexto mais dramático e contam mais a história da ópera.

Modulação: é uma variação de tonalidade na música. Nada mais é do que mudar o tom da música. Por exemplo, se a música está em Dó maior ela pode modular no meio para Lá menor.

Cromatismo: é uma escala musical formada por semitons. Por exemplo, Dó, Dó sustenido, Ré, Ré sustenido e assim por diante.

 

Referências:

BENNAHUM, Ninotchka Devorah. Carmen: a gypsy geography. Middletown: Wesleyan University Press, 2013.

MACDONALD, Hugh. Carmen. Grove Music Online, 2002. Acessado em 24 de Janeiro de 2019. http://www.oxfordmusiconline.com:80/subscriber/article/grove/music/O008315

LINKS:

https://www.ukessays.com/essays/music/diversity-of-exotic-musical-elements-in-carmen-music-essay.php

https://www.gazetadopovo.com.br/blogs/falando-de-musica/escandalo-moral-a-conturbada-estreia-da-opera-carmen-de-georges-bizet/

https://theconversation.com/bizets-femme-fatale-carmen-and-the-music-of-seduction-26304

https://www.opera-online.com/en/items/works/carmen-bizet-meilhac-1875

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