capa - profissão do músico em la la land

La la land, filme musical lançado em 2016, nos mostra um pouco como é a vida de artistas e os dilemas que estes precisam enfrentar em suas carreiras. Porém, como esse blog é sobre música, este post vai focar no aspecto mostrado sobre a profissão do músico, neste caso, da personagem Sebastian, um músico de jazz.

Sendo assim, por mais que o musical se concentre no aspecto da artista, nós musicistas conseguimos sentir o filme de outra perspectiva. Principalmente, pelo fato de serem mostradas várias situações que muitos músicos já enfrentaram.

Vale falar que, se você ainda não tiver assistido ao musical, esse post conterá alguns spoilers!

descubra pontos fortes

Pequena sinopse sobre as personagens de La La Land

O filme tem como mensagem principal a ideia de que “você precisa seguir seus sonhos, corra atrás, acredite!”. Assim, é um filme que se foca na vida dos artistas em Hollywood. Em resumo, a história, basicamente, se foca em dois polos.

A personagem principal, Mia trabalha em uma cafeteria dentro dos sets de filmagem e quer ser artista. Porém, faz vários testes e falha em muitos, ficando frustrada.

Sebastian é um músico, um pianista de jazz, que tem o sonho de ter um restaurante focado em música de jazz. No círculo dessa história, Sebastian levanta a questão de que o jazz que ele gosta já está morrendo.

Em relação ao termo Lalaland, significa estar fora da realidade e faz referência a Los Angeles, a cidade das oportunidades.

 

Os dilemas da profissão do músico

Focando mais no Sebastian, há diversas questões sobre o jazz que são levantadas durante o musical. Temos o fato de o jazz já não ser tão apreciado como antigamente, de ninguém mais entender essa linguagem, da renovação da música para que ela volte a existir e o preço que se paga por isso, entre outros. Então, vamos lá aos pontos!

 

1. A compreensão de uma linguagem musical

Um dos problemas que muitos músicos enfrentam, talvez os músicos clássicos passem mais por isso, seria o fato de tocarem peças que poucas pessoas entendam a linguagem. Isso porque muitas músicas já se distanciaram demais da cultura atual.

Com isso, quando vamos tocar músicas muito antigas ou pouco acessíveis, precisamos entender quem é o nosso público e saber como tornar aquilo mais próximo dele.

Há diversas questões que podemos nos perguntar, como contar o contexto da música, explicar certas ironias musicais, falar sobre o instrumento que se está tocando. Enfim, já temos um vídeo sobre esse assunto chamado tradução musical, caso queira saber mais sobre isso.

No caso do filme, a linguagem de jazz que Sebastian gosta já está morrendo e ele frisa isso no filme. Uma das cenas sobre isso é quando ele leva a Mia para um jazz club e ela diz que não gosta de jazz, acha chato.

Assim, Sebastian responde falando que as pessoas dizem não gostar de jazz porque não entendem seu contexto. Após essa cena, ele explica como o jazz nasceu e como acontece a performance desse estilo musical.

Essas questões de gostar ou não de uma música são palco de muitas discussões. Já temos um vídeo no canal sobre um dos episódios de Black Mirror que trata justamente da questão da formação de gosto. Será que gosto é pessoal ou é algo criado pelo contexto, ou até mesmo imposto pelas mídias que nos cercam?

Enfim, a questão da compreensão de uma linguagem musical traz a tona muitas outras questões que músicos precisam lidar no momento de interpretá-las. Sendo assim, isso faz parte significativamente do contexto da profissão do músico como um todo.

 

2. A renovação de estilos musicais

Um dos aspectos que a música passa cotidianamente é renovar diversos estilos musicais a fim de se enquadrarem no gênero popular vigente. Consequentemente, vemos músicas antigas ganhando arranjos diferentes ou até mesmo músicas internacionais ganhando versões brasileiras.

Esse mesmo aspecto faz parte do dilema central de Sebastian e o jazz, uma linguagem meio distante para a época. Sendo assim, pelo fato de o jazz mais “raiz” que Sebastian toca não ser mais tão apreciado, ele acaba sendo convidado por seu amigo a entrar em uma banda (de muito sucesso!) que tem a intenção de renovar essa linguagem.

Contudo, essa renovação acaba por quase que eliminar as características principais do jazz. Por isso, Sebastian, que quer tocar o jazz que feito há anos atrás, fica tão relutante em participar dessa banda e é taxado de antiquado.

Assim, fica a questão: o quanto é possível modificar uma música sem que ela deixe de ser o que é em sua essência? Porque dependendo do tipo de renovação que se faz para poder enquadrá-la em um novo estilo vigente, a música pode perder praticamente tudo e se tornar não algo renovado, mas um estilo completamente diferente.

No caso do filme, não apenas a música é profundamente modificada, mas os aspectos visuais do show também são. No começo do filme, podemos ver que o jazz club que Sebastian frequenta é um lugar intimista, feito para pessoas que curtem apreciar o som da música.

Por outro lado, na banda que Sebastian começa a tocar, a performance visual é totalmente diferente. Não há mais esse lugar intimista e sim um show de grandes proporções. Há jogos de luzes, roupas estilosas, performances corporais, algo bastante teatral e totalmente diferente do lugar-comum do jazz de Sebastian.

A indústria cultural 

Basicamente, tudo isso é uma característica da linguagem da indústria musical atual. Os espetáculos musicais possuem muitas apelações visuais e a música, às vezes, acaba sendo um pano de fundo e não mais o aspecto central. Sobre essa questão, tem outro post aqui no blog falando mais sobre as modificações na apreciação musical que a indústria fonográfica acarretou.

No Brasil, por exemplo, o forró universitário modificou bastante o sertanejo de raiz. Por isso, se usa esse termo “raiz” para se referir aos primórdios desse estilo musical. Outro exemplo é André Rieu, que tornou a música clássica um espetáculo, um show. Isso fez com que esse estilo de música fosse apreciado por muito mais pessoas.

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No entanto, fica a questão: até que ponto essas pessoas realmente estão tendo contato com certo tipo de música? Até que ponto esse tipo de renovação fará com que as pessoas se animem a conhecer mais sobre as linguagens já não tão disseminadas? Porque, dependendo, elas terão acesso a algo completamente diferente do que aquilo já foi um dia.

Isso é bastante parecido com as questões do incentivo à leitura, por exemplo. Existem os livros mais populares e acessíveis que podem realmente fazer com que algumas pessoas se encantem pela experiência da leitura e tenham acesso a livros mais densos. Por outro lado, podem fazer com que as pessoas só consigam consumir isso também, não chegando a conhecer outros mundos.

Em suma, essas renovações acabam por compor músicas completamente diferentes, criando novos estilos musicais. Assim, as músicas ditas “raiz” ficam mais confinadas a um público de nicho, não sendo tão disseminadas.

 

3. As escolhas de trabalho de um músico: “se vender” pode?

O termo “se vender” é um tanto pejorativo, porém não discutiremos isso aqui no mal sentido. A questão principal seria o quanto um músico precisa se vender no sentido de fazer algo que ele não acredita ou não gosta. Porém, precisa realizar o trabalho, pois é uma fonte de renda, uma forma de se sustentar.

Isso pode acontecer em diversas profissões. Um advogado, por exemplo, pode gostar de trabalhar em certos tipos de caso, mas às vezes precisa pegar casos de uma temática que ele não quer.

No caso de La La Land, Sebastian gosta de tocar esse jazz puro, mas é convidado para tocar em uma banda que faz um jazz misturado com o pop. Ele acaba aceitando o trabalho porque paga bem e naquele momento ele precisava daquilo.

Essa decisão do músico, no filme, é colocada de uma forma meio ruim. A Mia questiona essa decisão do Sebastian, pois ela sabe que não era o sonho dele. Contudo, para Sebastian, ele está fazendo um trabalho para ganhar dinheiro e ter uma vida melhor.

Por um lado, Sebastian fazendo essa escolha consegue fama e dinheiro, o que o ajudou a construir o seu sonho posteriormente: abrir um jazz club com o estilo de jazz e a situação social dentro da casa que ele tanto queria. Além disso, ele também consegue criar seu próprio espaço para tocar o que ele quiser.

aplausos musicalidade

Algumas questões em aberto sobre a profissão do músico

Para finalizar esse post, acredito que tanto o filme quanto a vida real dos músicos e da indústria cultural deixam muitas questões para serem debatidas.

Primeiramente, a questão sobre renovar certos estilos que acabam massificando e deixando tudo um tanto homogeneizado na indústria musical. Então, temos que nos perguntar qual é a linha divisória entre renovação e massificação? Quais são os elementos que teríamos que trazer nessa renovação para que estilos não percam seu sentido?

Afinal, os ouvintes de hoje não são os mesmos ouvintes de antigamente. Por isso, trazer elementos junto com músicas do passado é um fato essencial para haver comunicação com o público atual.

Novamente, se considerarmos os livros clássicos, o processo de “renovação” que acontece se daria, talvez, pelas inúmeras notas de rodapé com comentários ou livros de apoio sobre determinada obra. Isso porque o leitor de hoje não é o mesmo leitor de antigamente. É necessário entender o contexto para entender certas obras.

Porém, isso são assuntos para outros posts. Inclusive, temos um post explicando o que é música que abre para outras discussões como: para se entender uma linguagem musical é realmente necessário saber seu contexto? Enfim, Essa é outra longa discussão.

Se você preferir ver este conteúdo em seu formato audiovisual, assista ao vídeo abaixo!

E você? Já pensou sobre esses aspectos na profissão do músico? Quais são seus comentários sobre o assunto? Que outras discussões sobre o mundo da música você gostaria de ver por aqui? Deixe aqui embaixo!

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