capa - folclore brasileiro na música clássica

Um dos assuntos mais inerentes da cultura popular é o folclore brasileiro. Quem nunca pintou na escola uma figura do Curupira, do Saci ou da Cuca? Quanto tempo passamos lendo ou assistindo ao Sítio do Pica-Pau Amarelo?

Por ter nascido em uma cidade do interior do estado de São Paulo, lembro de poder visitar o Sítio do Pica-Pau Amarelo na cidade de Taubaté e ouvir estas histórias da boca da própria Dona Benta e poder brincar com a Emília.

Estas figuras, tão icônicas, não permaneceram apenas na memória de um povo, tomaram os livros, as mídias e, é claro, a música.

Aproveitando, então, que estamos chegando em Outubro, o mês do horror, separamos 3 obras da música clássica que retratam estas figuras folclóricas que tão bem conhecemos.

 

Boto Cor-de-rosa em Waldemar Henrique

A lenda do Boto cor-de-rosa é conhecida em todo o Brasil, mas é originária da região Norte do país. O animal realmente existe e possui a pele rosada, entretanto, não é a sua cor que o transformou em lenda.

Boto cor de rosa_folclore brasileiro na música clássica

As lendas contam que, durante as festas juninas, o boto se transformava em um elegante rapaz vestido de branco que sempre usava chapéu para esconder a narina de boto no topo da cabeça.

O rapaz seduz as moças que estão desacompanhadas durante a festa e as leva para o rio. Algumas acabam por engravidar e justificam terem sido enganadas pelo boto. Outras, ainda apaixonadas pelo boto, se jogam no rio a procura de seu amado.

Quando algum rapaz aparece em uma festa sozinho usando chapéu, pedem que o retire e mostre o topo da cabeça para provar que não é o boto. As crianças que não sabem quem são seus pais são chamadas de “filho do boto”.

Para representar esta lenda, o compositor paraense, Waldemar Henrique (1905-1995), compôs, em 1933, a canção Foi Boto, Sinhá, parte integrante da obra Canções Amazônicas. Nela podemos ver alguém nos contando a história de como uma moça foi seduzida pelo boto:

Foi boto, sinhá
Foi boto, sinhô
Que veio tentá
E a moça levou
E o tal dancará
Aquele doutô
Foi boto, sinhá
Foi boto, sinhô

A canção representa bem uma das lendas mais importantes para a população ribeirinha, e é uma das obras mais performadas do compositor paraense. Geralmente é realizada com uma voz solista e acompanhamento ao piano. Porém, podemos encontrar versões em que o instrumento acompanhador é o piano e até mesmo uma versão orquestrada pelo compositor Guerra-Peixe.

 

Tutu Marambá em Luciano Gallet

Tutu Marambá é um dos nomes dados ao bicho papão no Brasil. É uma criatura toda negra que não se é possível identificar uma forma propriamente dita. É uma figura muito conhecida na região nordeste, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Este persegue as crianças mal-educadas e arteiras, mas principalmente as que não querem dormir. Segundo Câmara Cascudo, grande folclorista brasileiro, é na verdade um mito importado da Europa. O texto é uma canção de ninar que tenta convencer a criança a dormir:

Tutu Marambá não venhas mais cá
Que o pai do menino te manda mata
Dorme, engraçadinho, pequenino da mamãe
Qu’ele é bonitinho, e filhinho da mamãe!


No folclore brasileiro, essa história é representada na música clássica através do arranjo para piano e coro misto de Luciano Gallet (1893-1931). Este arranjo traz uma musicalidade sombria, típica das canções de ninar brasileiras que, vamos admitir, não ajudam em nada a dormir!

 

Saci em Heitor Villa-Lobos

É claro que não podíamos deixar de fora a lenda nem mais famosa do Brasil, nem o compositor mais representativo. Heitor Villa-Lobos (1887-1959) compôs diversas obras baseadas em lendas, danças e povos brasileiros, sendo reconhecido mundialmente.

A figura do Saci dispensa apresentações, mas ainda assim é válido explicar um pouco de sua origem. Também conhecido como Saci-Pererê, é uma das figuras mais conhecidas do folclore brasileiro.

Saci_folclore brasileiro na música clássica

É representado por um menino negro de uma perna só que possui uma carapuça vermelha. Além disso, o saci é conhecido por suas travessuras tanto com os humanos quanto com os animais, e por isso sua representação musical é repleta de ritmos dançantes e melodias alegres.

Sendo assim, É provavelmente um dos mitos que mais musicados no país, ganhando uma marcha para piano de Villa-Lobos, e uma outra peça para piano de Francisco Mignone. Em 1909 ganhou uma composição de Chiquinha Gonzaga.

São muitas as figuras folclóricas brasileiras que ganharam o mundo da música. Aqui comentamos apenas algumas da música clássica, mas se entrássemos no ramo da música popular, este post não teria mais fim.

Quais outras figuras folclóricas brasileiras que você gostaria de ver representada musicalmente? Deixe nos comentários!

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