capa - trilhas sonoras inusitadas

Quando falamos em trilhas sonoras o que vem a sua mente? Uma grande orquestra com um grande coro ao fundo? Ou uma banda com músicas que não saem da cabeça?

Ainda que a grande maioria das trilhas sonoras seja assim, algumas se destacam pela criatividade na criação de sons que se encaixam perfeitamente com a cena do filme ou da série.

Então, neste artigo iremos mostrar 3 trilhas sonoras inusitadas que se distinguem pela instrumentação, combinações sonoras e como tudo isso se conecta com cada cena e personagem.

descubra pontos fortes

1. Uakti – Ensaio Sobre a Cegueira (2008)

Ensaio Sobre a Cegueira é um filme de 2008 dirigido por Fernando Meirelles com o roteiro baseado no livro de mesmo nome escrito por José Saramago, escritor português.

Este livro ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1998 e conta a história de uma epidemia de cegueira que atingiu uma cidade moderna, gerando o colapso daquela sociedade. O filme, adaptação do livro, nos mostra esta história de maneira crua e real, trazendo também uma trilha sonora ímpar.

As músicas incidentais foram criadas pelo grupo Uakti, liderados por Marco Antonio Guimarães. O grupo teve seu período de atividade entre os anos 1978 a 2015, sendo um focado na composição de música instrumental.

O grupo Uakti

O grande diferencial deste grupo está, entretanto, no fato de que ele constrói seus próprios instrumentos, usando, por exemplo, canos de pvc, vidro, metais e madeiras.

Sendo assim, os instrumentos criados e usados para a trilha sonora de Ensaio Sobre a Cegueira foram chori, gig, tampanário, únicordio, marimba de vidro com arco, entre outros. Já temos outro artigo neste blog falando de 7 instrumentos musicais bem inusitados, confira!

Uma curiosidade: Uakti é o nome de um ser mitológico das lendas dos índios Tukano. Ele vivia às margens do Rio Negro e possuía o corpo coberto por buracos. Quando corria, o vento passava por seus buracos criando suaves sons que seduziam as jovens. Irritados, os índios mataram Uakti e onde seu corpo foi enterrado nasceu uma palmeira da qual foram feitos os primeiros instrumentos musicais.

O grupo teve total liberdade para criar em cima das cenas que receberam e a trilha sonora acabou ficando pronta antes mesmo da edição final do filme.

“[…] a idéia de fazer a trilha com o Uakti foi justamente trabalhar com timbres desconhecidos, com o intuito de colocar o espectador num universo sonoro tão novo quanto o mundo da cegueira. Orquestra, quartetos de cordas, pianos ou violões, por serem muito usados no cinema, nos falam de emoções de um mundo mais conhecido, e neste filme a música deveria levar o espectador para outro lugar”, disse Fernando Meirelles em seu blog sobre o processo de criação do filme.

Por fim, é uma trilha envolvente que nos leva a um outro âmbito, um mundo real e ao mesmo tempo irreal, em uma conversa íntima com o filme.

Brian Reitzell – Hannibal (2013-2015)

Brain Reitzell é um compositor americano conhecido por suas trilhas sonoras para filmes e também para séries. Ficou conhecido por trabalhar nas trilhas de Deuses Americanos, Maria Antonieta, Wacht Dogs, e Hannibal, sobre a qual iremos falar um pouco.

Por ser baterista, Reitzell trabalha bastante com instrumentos de percussão, o que podemos notar durante a trilha sonora da série Hannibal. Assim como o personagem, a trilha sonora é minimalista e seca. Se você quiser saber mais sobre este personagem, assista esse vídeo do nosso mês do horror.

Além disso, o compositor também trabalha de forma semelhante ao grupo Uakti, criando sons de objetos que para nós podem parecer apenas brinquedos ou pedaços esquecidos.

Em Hannibal, ele utiliza brinquedos infantis, canos sanfonados, matracas, sirenes de bicicletas entre outros objetos. Estes sons acabam por criar desconforto e tensão sobrepondo cenas com bela fotografia e diálogos extensos.

Muitas vezes não há diálogo algum, toda a tensão da cena é criada a partir da sonoridade de Reitzell. Em entrevista para a Red Bull Music Academy, o compositor cita que não lê o roteiro antes, trabalha apenas com as cenas e os instrumentos que tiver a mão: “eu reajo às cenas e crio as músicas”.

Barbatuques – O Menino e o Mundo (2013)

Para terminar a lista de trilhas sonoras inusitadas, O Menino e o Mundo é uma animação brasileira lançada em 2013. Conta a história de Cuca, um menino que vive em um mundo fictício e sai para o mundo à procura de seu pai. O filme já foi vendido para mais de 80 países e concorreu ao Oscar de Melhor Animação em 2016.

A direção musical ficou por conta de Ruben Feffer e Gustavo Kurlat, mas quem nos conta essa história através da música é o grupo musical Barbatuques. O grupo foi criado em 1995 e já teve diversas formações, atualmente com 13 integrantes, mas o que não muda é seu estilo único de fazer música com o próprio corpo.

Isso mesmo! Eles usam a percussão corporal. Palmas, batidas no peito, estalar dos dedos, vibração dos lábios e da língua, aspiração, sapateado, assobios, todo o som que o corpo humano é capaz de produzir.

Além do Barbatuques, foi criado um Grupo Experimental de Música que explorou e construiu diversos instrumentos para a ambientação do filme, de maneira semelhante ao grupo Uakti, do qual já falamos aqui. Outro nome importante desta trilha sonora é o rapper Emicida.

Uma curiosidade: como todos os sons neste filme são característicos, o idioma falado também é! A língua usada no filme é o português ao contrário! Êcov airiugesnoc ralaf?

Essas foram as 3 trilhas sonoras inusitadas que são repletas de criatividade! A trilha sonora de um filme é muito mais do que uma simples música ao fundo. É ela que nos transporta para aquele mundo paralelo, que nos faz pertencer a ele.

Que tal prestar mais atenção, abrir mais os ouvidos quando você assistir ao seu próximo filme ou série? Você pode se surpreender!

Por fim, temos outro texto aqui no blog que mostra as músicas clássicas mais utilizadas em trilhas sonoras, não deixe de conferir!

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