Capa - aplausos nas salas de concerto

Você já foi a uma sala de concerto e não sabia direito o momento certo para aplaudir? Achou que a música tinha acabado, mas na verdade era só um momento de pausa?

Nesse post, vamos comentar sobre como e quando a sala de concerto começou a ser vista como um ambiente silencioso para se contemplar a música. Além disso, vamos comentar como surgiu essa “regra” sobre o momento certo de se aplaudir.

aplausos nas salas de concerto

A sala de concerto sempre foi silenciosa?

Na história da música, nem sempre o ambiente do concerto era silencioso. Na verdade, os aplausos entre os movimentos era bastante esperado pelo compositor. Isso demonstrava para o público tinha gostado daquele movimento e da música.

Portanto, se após o fim do movimento não houvesse aplausos, isso era um mau sinal, sendo um pouco frustrante para o compositor. Por isso, a regra era basicamente assim: se o público sentisse vontade de aplaudir, era só aplaudir! O público, então, era mais livre, entusiasmado, participativo.

Porém, é importante falar que a música tinha outra concepção, outro tipo de estética também. Por isso, as composições levavam em conta esse público participativo.

Durante os séc. XVII-XVIII, por exemplo, no auge das óperas, o público ia para as “salas de concerto” não exatamente para ver uma ópera, mas para jantar dentro da sala, jogar carta, fazer um social, namorar, entre outras coisas.

Assim, era comum fechar a cortina do camarim pra se ter privacidade e só se abria quando a música estava chamando atenção, ou seja, quando era uma ária de ópera muito virtuosística. Por isso, naquela época, não era comum ficar ouvindo “xiu” para que se fizesse silêncio.

 

A mudança do ambiente de concerto

Dessa maneira, esse conceito de só aplaudir no final da música (e não entre os movimentos) é um conceito mais atual dado a partir aí do fim do séc. XIX.

No livro Escuta Só, Alex Ross nos conta que esse conceito de não aplaudir começa com Parsifal de Wagner. O compositor havia estabelecido que não poderia ter aplausos no final do 1º e 2º atos para que se mantivesse o clima da música.

Nesse período, se começa a ter a ideia da música como uma obra-prima que precisa ser apreciada, precisa de atenção, de silêncio e de concentração. Portanto, uma estética diferente das anteriores. Por isso, os compositores começam a escrever para esse tipo de público mais silencioso de sala, explorando, assim, o silêncio entre os movimentos.

Com isso, o silêncio começa a ser parte central do ambiente das salas de concerto. Ele se torna essencial para que possamos prestar atenção no todo da música, em cada detalhe. Assim, o silêncio significa poder contemplar a música como um todo.

Então, esse costume de ir pra sala de concerto e ficar em silêncio, aguardar os movimentos da música terminarem em silêncio, são mais atuais mesmo.

Uma curiosidade: o compositor John Cage chega a abordar esse assunto do silêncio excessivo nas salas de concerto, falando sobre o “fim do silêncio”. Ele escreve a música 4’33, que dura 4 minutos e 33 segundos de puro silêncio (não há música nenhuma), deixando em evidência os barulhos que ocorrem na sala de concerto.

 

Mas existe o momento certo de aplaudir nas salas de concerto?

Bem, hoje em dia, espera-se que o público realmente aguarde o fim da música como um todo para aplaudir, ou seja, não aplauda entre os movimentos.

Se você está com dúvidas de quando é o momento certo para isso, temos uma dica: preste atenção nos músicos ou no maestro, pois eles nos “dão a deixa”. Em geral, quando se termina a peça, eles encaram o público e relaxam sua postura. Quando não termina, ou seja, quando é um momento entre um movimento ou outro, eles continuam olhando para a partitura e para o maestro, ou viram as folhas da partitura. Além disso, o maestro segura sua postura.

Claro que é bastante comum encontrar certas exceções. Existem peças que contém cadências dificílimas, em geral, improvisadas pelo solista. Assim, é comum que o público ainda aplauda depois de algo muito virtuoso que acontece no palco. Afinal, tem momentos muito difíceis de se conter os aplausos!

 

Para terminar…

É difícil dizer que aplaudir é errado, porque não é necessariamente nenhuma contravenção. Porém, é mais uma regra de etiqueta. Contudo, é algo a se pensar: precisamos mesmo de tanto silêncio nas salas de concerto? Será que o público não pode interagir um pouco mais com os músicos quando eles se sentirem empolgados?

Veja, talvez mais desagradável que os aplausos em si, que é uma manifestação positiva do público em relação ao concerto, são os inúmeros “xius” que as pessoas começam a fazer para pedir silencia.

Sobre esse assunto, existe um post do blog Euterpe que levanta vários pontos muito interessantes sobre o ‘engessamento’ das salas de concerto que acontece por tentar obter o máximo de controle do silêncio e acabam gerando situações muito mais problemáticas e desagradáveis do que os simples aplausos de poucos segundos.

Caso queria assistir a esse conteúdo em formato audiovisual, veja o vídeo abaixo:

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